terça-feira, 24 de agosto de 2010

Nossa História.

A história do Estudo do Carnaval na Universidade: O sonho que virou realidade!

Hiram Araújo - Diretor do Instituto do Carnaval

“De minhas oito décadas de vida, dediquei quase cinco ao estudo do carnaval. Mas foi somente há pouco mais de cinco anos, em outubro de 2005, que me senti plenamente realizado profissional e pessoalmente – e o Instituto do Carnaval foi quem me proporcionou esse momento de consagração, ao criar o primeiro curso superior de carnaval do Brasil, um sonho que acalentava e pelo qual lutava havia trinta anos.

Nos livros e em artigos que tenho escrito ao longo de minha carreira como pesquisador, enfatizo que a universidade sempre foi preconceituosa com o estudo do carnaval, por isso não formamos uma teoria capaz de interpretar corretamente o carnaval carioca. Em conseqüência, perdemos 22 preciosos anos na libertação econômica do carnaval carioca.

O sambódromo deveria ter sido construído em 1963 e não em 1984, tempo esse da maior descapitalização da festa pela indústria do monta e desmonta (construção das arquibancadas tubulares móveis).

Uma vez o antropólogo Gilberto Velho disse: “estou absolutamente convencido que a universidade tem papel fundamental na vida social. Não é uma coisa anacrônica, é um espaço, em princípio mais isento, mais crítico que pode fazer uma reflexão mais independente. Esta reflexão é o grande patrimônio da universidade. A universidade é fundamental para a idéia de uma sociedade moderna. Ela é o espaço onde as idéias podem circular com um pouco mais de distanciamento em relação a interesses imediatos”.

A ausência do estudo do carnaval na universidade e o não engajamento de nossos intelectuais na direção da empresa carnaval, instalada na cidade do Rio de Janeiro a partir de 1933, quando o Poder Público, tornou-se empresário da festa, levou nossa INTELLIGENTSIA a uma visão equivocada da nova realidade do carnaval carioca, em processo de evolução na Cidade do Rio de Janeiro.
O emprego da verba pública para salvar o moribundo carnaval, que havia perdido suas bases de sustentações econômicas espontâneas das comunidades do centro que foram expulsas para as periferias da cidade (os ricos foram para a zona sul e os pobres para os morros e subúrbios) pela reforma Pereira Passos no início do século XX, condicionou um novo estilo de carnaval, modelo de indústria cultural que exigiu a criação de uma empresa para movimentar o novo mercado do carnaval carioca.

Ao assumir o ‘status’ de empresário, o Poder Público o fez amadoramente, não tirando do mercado as bases econômicas de sua sustentação. Paralelamente, o surgimento de uma indústria subsidiária, começou a viver parasitariamente do mercado do carnaval.

À medida que o carnaval carioca, modelo Indústria Cultural, mais progredia, o empresário Poder Público mais empobrecia e a indústria subsidiária predatória mais enriquecia.

Enquanto na Alemanha Johann Wolgang von Goethe, escritor, poeta e conselheiro econômico e político da Weimar, autor, entre outras obras, do Fausto, foi o organizador oficial dos Folguedos e Mascaradas da Corte, entre nós, nenhum intelectual esteve à frente da empresa carnaval carioca.

Sem a vivência da prática, que Maffesoli chama de “respiração social”, nossa INTELLIGENTSIA passou a interpretar o carnaval com olhar saudosista, dizendo que o carnaval é uma festa popular que não deve gerar lucros. Essa alienação da realidade justificou a conduta amadora na condução da Empresa-Carnaval carioca que tanto atraso trouxe.

Segundo estudos conduzidos pelo economista Luiz Carlos Prestes Filho no livro “A cadeia produtiva do carnaval carioca”, o carnaval do Rio de Janeiro movimenta cerca de R$700 milhões de reais por ano em nossa cidade, e gera milhares de empregos diretos e indiretos. “

Por isso, o Instituto do Carnaval, quando passou a oferecer o primeiro curso superior de carnaval do Brasil, e com isso elevando a formação de profissionais para o seu processo produtivo, não somente cumpriu seu papel institucional de formadora de conhecimento, mas se pôs na vanguarda do progresso cultural e econômico.

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